A Câmara Municipal de Betim realizou Reunião Solene em homenagem aos 90 anos de fundação da Colônia Santa Isabel, conforme Requerimento nº 2.571/21, de autoria do presidente do Poder Legislativo, vereador Klebinho Rezende, e de vários outros parlamentares. O evento aconteceu na manhã desta terça-feira (14 de dezembro) no Centro de Memória e Ação Luís Veganin.

Klebinho presidiu a Reunião e fez a entrega de uma placa em homenagem ao 90º aniversário da Colônia. A honraria foi recebida pelo senhor José André Vicente, morador do local há 77 anos. A placa, que ficará exposta no Centro de Memória, tem os seguintes dizeres:

 A Câmara Municipal de Betim, por seus representantes legais, presta esta homenagem à Colônia Santa Isabel pela história dos 90 anos de lutas e conquistas desta região de grande significado não só para o nosso município, mas que também carrega a história do País e registros da condução do tratamento da hanseníase no Brasil. Ainda que repleta de dores é uma história que deve ser sempre lembrada, porque também traz,  em sua trajetória,  a força, a garra e a transformação de um contexto de segregação para uma realidade de inclusão, busca de reparos e muito amor.

A Reunião Solene contou a maciça participação dos vereadores, do secretário municipal de Arte e Cultura, Geraldo Valadão, do gerente regional de Citrolândia, Marcus Vinícius da Silva Valle, do escritor e advogado Thiago Flores e do coordenador do Centro de Memória e Ação Luís Veganin, Hélio Dutra, além de inúmeras lideranças comunitárias.

 Preconceito e resistência

 A história da Colônia Santa Isabel se inicia com a sanção da Lei Estadual nº 801, de 2 de setembro de 1921. O Governo do Estado de Minas Gerais, com o objetivo de erradicar a então chamada lepra, desapropriou, a título de Utilidade Pública, os terrenos, os mananciais e as benfeitorias da Fazenda do Motta, situada à margem do Rio Paraopeba, Distrito de Capela Nova do Betim, município de Santa Quitéria (atual Esmeraldas), com 605 hectares, servida por estrada de ferro e de rodagem, para nela ser localizada a primeira grande colônia para doentes com hanseníase. Uma forma de controle da doença que era crescente no Brasil na década de 1920.

Em 12 de outubro de 1922 foi lançada a pedra fundamental, sendo diretor de Saúde Pública o médico Samuel Libânio e inspetor dos Serviços contra a Lepra o médico Antônio Aleixo, ambos professores da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais.

Inaugurada em 23 de dezembro de 1931, a Colônia Santa Isabel começou a receber os primeiros doentes em janeiro de 1932. Nas proximidades da Colônia, próximo à estação da estrada de ferro, a Sociedade Mineira de Proteção aos Lázaros e Defesa contra a Lepra construiu um preventório para asilo de filhos de leprosos, não contaminados, com capacidade total para 100 pessoas.

Aqueles que conseguiam autorização para se casar e tinham filhos não portadores da doença sofriam com o recolhimento compulsório de suas crianças logo após o nascimento. Os bebês eram então conduzidos a creches, conhecidas como preventórios, em que muitos eram adotados sem o consentimento dos pais.

O controle se deu por meio da Polícia Médica.  Os inspetores de saúde eram treinados para detectar possíveis portadores da doença e os isolavam de maneira compulsória em colônias, eliminando risco de contaminação. Os supostos doentes, em alguns casos, eram recolhidos no laço e mantidos sob constante vigilância, com regras rígidas de convivência e punição para aqueles que as descumpriam. Havia guaritas com correntes nos limites do sanatório para impedir fugas e existia também o oboró, uma moeda própria.

Na prática, o objetivo do isolamento era proteger as pessoas sadias da sociedade e causar a sensação de que os internos ficariam bem e protegidos dentro das colônias, como garantia a escritura presente no portal da Colônia Santa Isabel: Hic Manebimus Optime, que em português se traduz como “aqui ficaremos bem”.

 Apesar da segregação, a Colônia Santa Isabel apresentou uma significativa vida cultural devido à presença dos mais variados artistas, o que possibilitou uma atmosfera artístico-cultural por toda a unidade. O Cine-Teatro Glória (Pavilhão Juiz de Fora ou Pavilhão de Diversões) possuía cassino, cinema e salão de bailes, onde se apresentavam grupos de jazz, bandas, coral e escolas de samba. Todos os grupos eram formados pelos moradores. Contando também com salão de jogos e o clube recreativo.

Os internos frequentavam sessões de cinema, promoviam festivais de teatro e participavam de bailes aos sábados e domingos, além de sessões de bingo. Também havia um campo de futebol e o esporte se fixou na vida da colônia com a fundação de dois times de futebol: o Brasil F. C., que em 1942 teve de mudar de nome para Minas E. C. devido a um Decreto Federal do governo de Getúlio Vargas, e o União E. C., inspirado no Villa Nova Atlético Clube, de Nova Lima. Existiam também times de basquete nos gêneros masculino e feminino.

Já a religiosidade foi inicialmente marcada pela presença do catolicismo, representado pelas irmãs do Monte Calvário e os frades franciscanos.

Apenas em 1962 a internação compulsória dos doentes deixou de ser regra e em 1965 os internos obtiveram permissão para deixar a instituição, mas a maioria permaneceu, pois acreditava que não seria aceita fora dos limites da Colônia. Mesmo saudáveis, os moradores da região sofreram igualmente o preconceito.

Em função dessa exclusão social, de origem da Câmara Municipal de Betim, foi sancionada pelo prefeito a Lei nº 783, de 7 de dezembro de 1966. Seu artigo 1º determinava: fica modificada a denominação do atual Povoado de Limas, neste município, próximo à Colônia Santa Isabel, às margens da Rodovia Fernão Dias, para Bairro Citrolândia. Era uma tentativa de mitigar os danos sociais provocados à população local.

O avanço das pesquisas comprovou que a hanseníase não é uma doença tão contagiosa quanto se pensava. Somente no fim da década de 1980, com a mudança da política nacional em relação às 33 colônias existentes no Brasil, os pacientes receberam alta e os portões da Colônia Santa Isabel foram abertos. Terapias foram desenvolvidas e, em 1981, a Organização Mundial de Saúde passou a recomendar a poliquimioterapia.

Diretoria de Comunicação Social - Jorn. Wagner Augusto