1921 - Colônia Santa Isabel

  • Autor: Diretoria de Comunicação Social - 13/12/2021
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Após sancionada a Lei 801, de 2 de setembro de 1921, o governo do Estado de Minas Gerais, com o objetivo de erradicar a lepra, desapropriou, a título de utilidade pública, os terrenos, os mananciais e as benfeitorias da Fazenda do Motta, situada à margem do rio Paraopeba, distrito de Capela Nova do Betim, município de Santa Quitéria, com 605 hectares, servida por estrada de ferro e de rodagem, para nela ser localizada a primeira grande colônia para doentes com hanseníase. Uma forma de controle da doença que era crescente no Brasil na década de 1920.

Aos 12 de outubro de 1922 foi lançada a pedra fundamental sendo Diretor de Saúde Pública o Dr. Samuel Libanio e inspetor dos serviços contra a lepra o Dr. Antônio Aleixo, ambos professores da Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. As obras da colônia foram continuadas no período que foi Diretor de Saúde Pública o Sr. Raul de Almeida Magalhães e terminadas sob a direçãodo Dr. Ernani Agrícola

De acordo com o plano geral de construção, o leprosário Colônia Santa Isabel teria lotação para 1.500 doentes, compreendendo 68 edifícios destinados a habitação de famílias doentes, solteiros, enfermarias para homens e enfermarias para mulheres, policlínica, refeitórios, residências do pessoal de administração, escola, etc. Em outros edifícios, seriam instalados uma capela, um instituto de pesquisas (Instituto Gaspar Vianna), um laboratório de química (Instituto Lourença de Magalhães), organizações destinadas a estudos e ensaios de tratamento contra a lepra, com sede na capital. Os terrenos da Colônia foram divididos contemplariam uma zona para pecuária, outra para agricultura, pomares e uma parte para cultivo de plantas.

Inaugurada em 23 de dezembro de 1931, a Colônia Santa Isabel começou a receber os primeiros doentes em janeiro de 1932.

Nas proximidades da Colônia, próximo a estação da estrada de ferro, a “Sociedade Mineira de Proteção aos Lázaros e Defesa contra a Lepra” construiu um preventório para asilo a filhos de leprosos, não contaminados, com capacidade total para 100 pessoas.

Aqueles que conseguiam autorização para se casar e tinham filhos não portadores da doença sofriam com o recolhimento compulsório de suas crianças logo após o nascimento. Os bebês eram então conduzidos a creches, conhecidas como preventórios, em que muitos eram adotados sem o consentimento dos pais.

O controle se deu por meio da polícia médica, os inspetores de saúde eram treinados em detectar possíveis portadores da doença e os isolavam de maneira compulsória em colônias, eliminando risco de contaminação. Os supostos doentes, em alguns casos eram recolhidos no laço e mantidos sob constante vigilância, com regras de convivência rígidas e punição para aqueles que as descumpriam. Havia guaritas com correntes nos limites do Sanatório para impedir fugas e existia também o oboró, uma moeda própria.

Na prática, o objetivo do isolamento era proteger as pessoas sadias da sociedade e causar a sensação de que os internos ficariam bem e protegidos dentro das colônias, como garantia a escritura presente no portal da Colônia Santa Isabel “Hic manebimus optime”, que em português se traduz “Aqui ficaremos bem”.

Considerada modelo de “leprosário”, era composta por grandes pavilhões, divididos por sexo e faixa etária.

Ao entrar nas colônias, os asilados tiveram que reaprender a viver e a construir novas formas de se socializarem. O isolamento imposto separou os pacientes de seus familiares, além de também afastá-los de inúmeras outras pessoas de seu convívio. Assim, os pacientes tiveram que construir novos laços, identidades e espaços de sociabilidade.

Apesar da segregação, a Colônia Santa Isabel apresentou uma significativa vida cultural devido a presença dos mais variados artistas que possibilitou uma atmosfera artístico-cultural por toda unidade. O Cine Teatro Glória (Pavilhão Juiz de Fora ou Pavilhão de Diversões) possuía cassino, cinema e salão de bailes, onde se apresentavam grupos de jazz, bandas, coral e Escolas de Sambas. Todos os grupos eram formados pelos moradores. Contando também com salão de jogos e o clube recreativo. Os internos frequentavam sessões de cinema, promoviam festivais de teatro e participavam de bailes aos sábados e domingos, além de sessões de bingo. Também havia um campo de futebol e o esporte se fixou na vida da Colônia com a fundação de dois times de futebol (Minas e União Esporte Clube) e basquete nos gêneros masculino e feminino.

Já a religiosidade foi inicialmente marcada pela presença do catolicismo representado pelas irmãs do Monte Calvário e os frades franciscanos. O assistencialismo proposto era visto como fator de elevação moral, de estímulo, higiene, disciplina. Mais tarde, adeptos de seguimentos protestantes e do espiritismo kardecista também foram marcantes. A presença dos religiosos era considerada um dos mais importantes serviços prestados aos doentes.

A mão-de-obra local passa a ser utilizada devido a baixa oferta de profissionais em função do receio de contágio. Os doentes passam a ser contratados por meio de uma bolsa de trabalho. Esta nova relação econômica fomenta a criação de olarias, serrarias...

Nas décadas de 1940 e 1950, familiares dos enfermos, que não aceitavam o distanciamento de seus entes queridos ou mesmo os próprios pacientes liberados em função de melhora no quadro clínico, começaram a povoar as terras adjacentes da colônia e em alguns anos inicia-se na região o povoado de Limas sem nenhuma infraestrutura.

Apenas em 1962 a internação compulsória dos doentes deixou de ser regra e em 1965, os internos obtiveram permissão para deixar a instituição, mas a maioria permaneceu, pois acreditavam que não seriam aceitos fora dos limites da colônia. Mesmo saudáveis, os moradores da região sofreram igualmente o preconceito. Em função desta exclusão social, de origem da Câmara Municipal de Betim, foi sancionada pelo prefeito a Lei 783 de 7 de dezembro de 1966, Art.1º, “Fica modificada a denominação do atual povoado de Limas, neste município de Betim, próximo à Colônia Santa Isabel, às margens da Rodovia Fernão Dias para Bairro Citrolândia”, tenta mitigar este dano ao povoado local.

O avanço das pesquisas comprovou que a hanseníase não é uma doença tão contagiosa quanto se pensava. Somente no fim da década de 1980, com a mudança da política nacional em relação às 33 colônias existentes no Brasil, os pacientes receberam alta e os portões da Colônia Santa Isabel foram abertos. Terapias foram desenvolvidas e, em 1981, a OMS passou a recomendar a poliquimioterapia.

Desde 1995, o tratamento para a doença é oferecido gratuitamente por meio do SUS. Nesse mesmo ano, em nosso país, o termo lepra e seus derivados foram substituídos por hanseníase na tentativa de reduzir o estigma milenar da doença.

As ações destinadas à prevenção de incapacidades em hanseníase tiveram início em 22 de agosto de 1988, com o atendimento de fisioterapeuta e terapeuta ocupacional em consultório ambulatorial. Em 1992, houve a ampliação do quadro de funcionários, o que permitiu a expansão do serviço de reabilitação.

Atualmente a Casa de Saúde Santa Isabel faz parte do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paraopeba, composto pelos municípios de Betim, Bonfim, Brumadinho, Crucilândia, Esmeraldas, Florestal, Igarapé, Juatuba, Mateus Leme, Mário Campos, Piedade dos Gerais, Rio Manso, São Joaquim de Bicas e Sarzedo.

 

Publicado em: 14/12/2021